No último mês de 2024 teremos uma Lua Negra, mas não é caso para apreensão – Lua Negra é como se designa a segunda lua nova no mesmo mês. Dezembro de 2024 começou com uma lua nova no dia 1 e como o período (sinódico) lunar é de 29,5 dias, no dia 30 há outra lua nova.
No dia 4 um fino crescente da Lua passa cerca de 3 graus abaixo do planeta Vénus, que parece uma “superestrela” visível à esquerda do pôr-do-Sol. No dia 8 a Lua atinge a fase de quarto crescente e passa a pouco mais de 4 graus do planeta Saturno.
Por volta do dia 12 começa a ver-se, pouco antes do amanhecer, o planeta Mercúrio, virado a sudeste. O planeta vai subir rapidamente no céu de dia para dia, aparecendo mais cedo e vendo-se cada vez mais tempo.
No dia 13, logo ao anoitecer, a Lua está no meio do enxame de estrelas aberto das Plêiades, as sete irmãs da mitologia grega, ninfas filhas de Atlas e acompanhantes de Artemisa. Em Portugal este enxame também é conhecido por “sete estrelo”.
Dia 14 ocorre o máximo da “chuva” de meteoros das Gemínidas. Ativas entre 4 e 17 de dezembro, este ano o pico das Gemínidas será fortemente afetado pelo brilho da Lua, que atinge a fase de lua cheia no dia seguinte. Ainda assim, com até 120 meteoros por hora (que seriam visíveis em céus escuros), certamente alguns serão brilhantes o suficiente para se ver, mesmo com a Lua quase cheia. A melhor altura para tentar observar algumas Gemínidas será por volta das 02:00, quando o radiante (ponto de onde parecem emanar os meteoros), a constelação dos Gémeos, está praticamente no zénite.
Na noite de 17 para 18, a Lua aproxima-se a olhos visto do planeta Marte: quando este nasce, por volta das 20:00, está a cerca de 6 graus do planeta, mas pouco antes do amanhecer de dia 18, os dois astros estão a apenas 1 grau de distância.
Às 09:20 do dia 21 ocorre o solstício de inverno, assinalando o início do Inverno. Este é o dia em que o Sol nasce mais à direita do ponto cardeal Este (cerca de 32 graus); na sua passagem a Sul, ao meio-dia, vai estar mais baixo e põe-se mais à esquerda do ponto cardeal Oeste (cerca de 32 graus). Por isso, neste dia a nossa estrela descreve no céu o arco mais baixo de todo o ano, sendo um dos dias mais curtos do ano:
O Sol, no Porto, nasce às 7:57 e a põe-se às 17:09, com o dia a durar 9 horas e 12 minutos. Em Bragança o dia dura 9h08min (das 7:51 às 16:59), em Coimbra 9h18min (das 7:53 às 17:11), em Lisboa 9h27min (das 7:52 às 17:19), em Faro 9h37min (das 7:42 às 17:19). Já no arquipélago dos Açores (Ponta Delgada), o dia dura 9h33min (das 7:55 às 17:28), enquanto na Madeira (Funchal), o dia dura 10 horas certas (das 8:06 às 18:06).
Este será também o melhor dia dos próximos meses para ver Mercúrio, pois este atinge a maior altura no céu – nasce por volta das 06:15 e ao amanhecer estará a cerca de 13 graus acima do horizonte. A partir de dia 22 começa o seu caminho de aproximação do Sol, no céu, deixando de se ver lá para meados de janeiro do próximo ano. Este é também o dia em que a Lua atinge o quarto minguante.
No dia 28 uma Lua minguante, com apenas 7% da sua superfície iluminada, está a cerca de 10 graus de Mercúrio, ao amanhecer, com a estrela Antares, o coração do Escorpião entre os dois. Este trio está virado a sudeste, mas por volta das 06:43, a Nor-noroeste, aparece a Estação Espacial Internacional (conhecida pela sigla inglesa ISS), que cruza o céu durante mais de 6 minutos, desaparecendo a Este.
No dia seguinte, o desafio de observação do mês: com apenas 3% da Lua visível, esta passa cerca de 7 graus abaixo de Mercúrio. Mas como a Lua nasce por volta das 07:15 e o brilho do Sol nascente faz desaparecer Mercúrio por volta das 07:45, quando o nosso satélite está a apenas 5 graus acima do horizonte, ver os dois juntos será mesmo para quem tem olhos de águia.
E como já tinha referido no início, a terminar o ano astronómico, no dia 30 ocorre a Lua Negra.
Boas observações, festas felizes e votos de um 2025 mais pacífico.
Ricardo Cardoso Reis (Planetário do Porto e Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço)
Fig1: O céu centrado no zénite, às duas da manhã do dia 14 de dezembro de 2024, com indicação do radiante da chuva de meteoros das Gemínidas. (Imagem: Ricardo Cardoso Reis/Stellarium).