Um estudo teórico realizado no Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS-Iscte) apresenta uma análise comparativa de duas teorias do comportamento social para explorar a forma como as pessoas se relacionam com o futuro e as implicações daí decorrentes. O estudo informa sobre as perspetivas únicas de cada teoria e o potencial de integração interdisciplinar relativamente a fenómenos com importantes impactos sociais, como a crise climática e a transição para as energias renováveis.
Com este estudo, Ross Wallace, estudante do Doutoramento em Psicologia no Iscte- Instituto Universitário de Lisboa, e Susana Batel, investigadora no CIS-Iscte, abrem caminho para uma conceptualização mais matizada e sistemática da forma como as pessoas representam o futuro e com que consequências. “As atuais questões sociais, como a crise provocada pelas alterações climáticas e a necessidade de descarbonizar os sistemas energéticos, são muito complexas e exigem uma conceptualização que considere como as pessoas se envolvem com o futuro” Ross Wallace começa por explicar. De acordo com o investigador, as consequências destes problemas frequentemente não são imediatas e podem acontecer apenas num futuro distante, o que pode representar um desafio para os comportamentos sociais.
No artigo, a equipa de investigação centrou-se em duas principais teorias: a teoria sócio-psicológica das representações sociais e a teoria francesa da sociologia pragmática do envolvimento e da crítica (também conhecida como teoria das convenções). Susana Batel esclarece que a primeira “realça a natureza social da construção de significados e as formas reflexivas e intencionais de como os indivíduos representam o futuro”, enquanto a segunda “oferece uma conceptualização mais elaborada do modo como as pessoas se envolvem de forma prática com o mundo, incluindo as suas interações com o futuro e as dimensões que influenciam a construção de futuros coletivos”.
Ao comparar e sintetizar a teoria das representações sociais e a teoria das convenções, a equipa de investigação sublinha a importância de analisar as representações do futuro no contexto das dinâmicas de poder da sociedade, entre os sistemas político-especializados e o público, e das necessidades de mudança disruptiva para resolver queixas e injustiças coletivas. Especificamente, os autores argumentam que, integrando os conhecimentos de ambas as teorias, a comunidade de investigação pode compreender melhor a forma como as pessoas negoceiam e co-criam o futuro, particularmente no contexto de questões sociais prementes como as alterações climáticas e a descarbonização das sociedades.
Por exemplo, considere-se a questão ambiental da subida do nível do mar e a ameaça que pode representar para as pessoas no futuro. A teoria das representações sociais analisaria a forma como os indivíduos e as comunidades constroem representações da subida do nível do mar, mas também a forma como as pessoas comunicam e negoceiam significados relacionados com esta questão ambiental, considerando fatores como a influência dos meios de comunicação social, as crenças culturais e as interações sociais na formação das perceções da ameaça. Em alternativa, a teoria das convenções centrar-se-ia na forma como os diferentes atores sociais se envolvem, na prática, com o problema da subida do nível do mar, nomeadamente examinando as implicações materiais desta questão para as comunidades, as orientações morais que guiam as respostas à subida do nível do mar e as temporalidades envolvidas no planeamento e na adaptação às paisagens costeiras em mudança. “Pensamos que, ao combinar os pontos de vista de ambas as teorias, os investigadores e as investigadoras serão mais capazes de compreender e abordar a forma como as pessoas lidam com questões sociais futuras, e de uma forma normativamente orientada para o bem comum”, afirma Susana Batel.
“Com este artigo, apelamos a uma reflexão sistemática sobre a relação entre representação e ação, ao mesmo tempo que enfatizamos a agência das pessoas na formação e transformação das representações sociais através da comunicação e do discurso”, conclui Ross Wallace.
Comunicação de Ciência (CIS-Iscte)