E já vamos com o ano a meio.
Júpiter vai-nos abandonar durante uns tempos. Logo no início do mês está visível, mesmo ao anoitecer e na direção do pôr-do-Sol, mas a cada dia que passa vai ficando cada vez mais baixo. A meio de junho já estará demasiado perto do Sol, no céu, para se ver.
Em compensação, Mercúrio volta a estar visível. Na realidade, no dia 7 de junho os dois planetas trocam – estão à mesma altura acima do horizonte, ao anoitecer, a cerca de 4 graus. Mercúrio continua a subir no céu durante quase todo o mês, atingindo a altura máxima de cerca de 11 graus, ao anoitecer, no dia 26.
Já Marte continua a ver-se ao anoitecer, mas vai ficando mais baixo ao longo do mês. Ao anoitecer, no início de junho, está a cerca de 41 acima do horizonte, enquanto no fim do mês já está a menos de 30 graus. Procurem-no como uma “estrela” avermelhada, ou alaranjada, na direção do pôr-do-Sol.
Quanto a Vénus e Saturno, só estão visíveis de madrugada. Vénus nasce por volta das 4 da manhã ao longo de todo o mês. Já Saturno nasce por volta das 3 da manhã no início de junho, mas no final do mês já nasce por volta da 01h30. Ambos ficam visíveis até ao amanhecer.
Este mês é propício para a observação do enxame de estrelas de Hércules, também conhecido por Messier 13 (ou M13), um enxame globular na direção da constelação com o mesmo nome. Logo ao anoitecer, o enxame está próximo do Zénite (ponto do céu mesmo por cima das nossas cabeças).
A constelação onde está este enxame representa um dos mais famosos heróis da mitologia grega – o semideus Hércules, filho de Zeus e de uma mortal. Apesar deste herói ser mais conhecido pelos seus 12 trabalhos, ainda teve tempo para navegar com Jasão e os seus Argonautas, ou para capturar Troia.
Os enxames são aglomerados de estrelas que nasceram da mesma nebulosa e por isso estão concentradas numa área (relativamente) pequena. O enxame de Hércules é um enxame globular, ou seja, quase esférico, composto por cerca de 300 000 estrelas. Como está a 25 000 anos-luz de distância, num céu escuro e sem poluição luminosa, é visível a olho nu (ou através de binóculos), embora pareça uma “manchinha” – não é possível distinguir estrelas individuais. Já de locais com muita poluição luminosa, como de uma cidade, só é visível através de um telescópio.
Para encontrarem o M13 no céu podem imaginar uma linha reta, da estrela Arcturus até a estrela Vega, as mais brilhantes das constelações do Boieiro e da Lira, respetivamente. O enxame está sensivelmente a meio (embora um pouco mais próximo de Vega).
Quanto à Lua, está cheia no dia 11 e atinge o quarto minguante a dia 18. No dia 19 passa a apenas 2 graus de Saturno.
No dia 21 de junho, às 03h42, ocorre o solstício (de verão no hemisfério Norte).
Este é o dia do ano em que o Sol nasce mais afastado do ponto cardeal Este (cerca de 32 graus à esquerda) e põe-se mais afastado do ponto cardeal Oeste (cerca de 32 graus à direita). Por isso, é também o dia em que a nossa estrela passa mais tempo acima do horizonte e ao meio-dia, ao passar a Sul, está no ponto mais alto no céu, de todo o ano, sendo por isso a noite mais curta do ano. Na cidade da Guarda, por exemplo, a noite dura apenas 8 horas e 56 minutos.
Mas devido à inércia térmica da Terra, apesar de este ser o dia em que o hemisfério Norte recebe mais energia do Sol, não é o dia mais quente do ano – as temperaturas continuam ainda a subir durante mais de um mês.
No dia 22, a Lua passa a 5 graus de Vénus, com a lua nova a ocorrer no dia 25. No dia 26, um finíssimo crescente da Lua passa a cerca de 6 graus de Mercúrio e quase a terminar o mês, no dia 29, passa a pouco mais de 2 graus de Marte.
Boas observações.
Ricardo Cardoso Reis (Planetário do Porto e Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço)